Antes de qualquer coisa já adianto que este texto contém verdades duras de admitir. Eu quase consigo imaginar a sua carinha se recusando a admitir que se identifica com várias coisas que eu estou dizendo... Tá tudo bem! O subconsciente faz coisas que a gente nem acredita mesmo.
É muito louco pensar em como funciona a cabeça da gente, não é mesmo? Sem perceber, diariamente agimos de maneira a reforçarmos certas crenças que temos e que não nos fazem bem... Isso se chama autossabotagem e funciona mais ou menos assim: na sua sala tem 5 meninos, todos são super legais, divertidos e amigos, só que apenas um namora. E adivinha por qual seu coraçãozinho bate mais forte? (só não merece parabéns quem respondeu que é o correspondido porque, sim, embora esse seja o escolhido, essa é sempre a opção mais burra).
Poderia passar horas aqui falando de autossabotagem, mas se tem uma coisa que me interessa mais é discutir o comportamento das pessoas "boazinhas"; sabe aquela pessoa solícita, paciente e querida por todos? Pois é. Hoje eu vim aqui contar pra vocês que ela, na verdade, não é tão boazinha assim! E, pasmem, no fundo talvez ela seja até pior que muita gente.
Já perceberam que a pessoa boazinha também é meio sonsa? Ou sonsa ou coitadinha. Observem. A pessoa boazinha ou te deixa no comando das situações porque "não sabe fazer" ou porque "quer te agradar/te fazer se sentir a vontade" (categoria sonsa) ou pega pega tudo pra si, resolve e faz e ajuda e sorri e depois lamenta: "tudo eu... tudo eu... se não sou eu ninguém nem tá nem aí..." (categoria coitadinha).
Sonso ou coitadinho, o fato é que todo bonzinho se lamenta... Sabe aquela história de: "não adianta nada ser bonzinho" ou de "bonzinho só se fode"? Então, tudo balela! Quer dizer... não que seja mentira. Se fazer de bom tem seus prós e contras: mas tem vários prós, entende? Dizer que o bonzinho SÓ se fode é mentira. E eu não estou aqui para falar que a recompensa do bonzinho é o sentimento de alegria que ele tem por estar fazendo o bem... Não! Nada disso. Muito pelo contrário, pode ter certeza que, embora esteja sorrindo por fora, em muitos momentos o bonzinho está xingando o mundo por dentro por estar achando um porre essa coisa de ser agradável ou prestativo. Vou explicar!
A maldade do bonzinho sonso está em saber escolher para onde correr justamente quando o calo aperta. Repara nas pessoas pessoas com quem ele anda. É sempre uma relação cíclica, porque ele vai recorrer a quem interessa no momento em que interessa. Ele vai ser seu melhor amigo enquanto você estiver fazendo o que é interessante a ele, mas depois ele vai te esquecer e colar em outro que esteja mais alinhado ao seu momento. O bonzinho sonso é meio dependente, sabe? Parece que ele não sabe fazer nada sozinho; ele é ingênuo e você tem dó dele; você se preocupa, pois acha que ele não vai conseguir se virar e tenta fazer o que pode por ele. Mas pera lá... Será que se ele fosse tão ingênuo assim ele saberia tão direitinho a quem recorrer quando precisa de ajuda? Pense nisso!
Esse é o pró de ser sonso, preocupado com ele todo mundo faz tudo que o bonzinho quer... As pessoas estarão sempre dispostas a ensiná-lo a fazer as coisas, mas como ele é todo sonsinho, acaba que é mais fazer fazer o que tem que ser feito por ele e, assim, ele continua lá sem aprender, sem saber, sem crescer... Esse é também o contra do bonzinho sonso. Ele é mesmo dependente, mas porque ele quer ser, porque quando alguém não pega na mãozinha dele para atravessar a rua, ele escolhe outra companhia pra ajudar. Não é que ele não goste mais do amiguinho que o incentivou a andar sozinho, mas é que aquele que carrega no colo entende melhor o momento que ele tá passando, sabe? O bonzinho sonso muitas vezes se sente fraco e impotente e sofre por isso. Isso dói mesmo, mas porque é que ele não se mexe e aprende a fazer sozinho?
Já a maldade do bonzinho coitadinho é que no fundo ele é um manipulador. Ele não é bonzinho única e simplesmente pois é bonito ser bom. Ele é bonzinho porque sabe que vai conquistar algo de você. Ele ajuda, ele tem paciência e ele dá atenção porque sabe que, de alguma forma, será recompensado por isso. E é!!! Admita: se você tem dois amigos, o que está com você a todo momento e o que só dá um hello de vez em quando, para qual você dá o melhor presente de aniversário? Não tenta negar... Você pode ter 5 melhores amigos de infância, mas sempre tem um que é seu xodózinho e você também faz mais por ele do que pelos outros.
A dor desse bonzinho é a cobrança que ele mesmo se impõe e as decepções que tem em cima das expectativas que cria. Claro, embora não admita, sua bondade tem um quê de interesse e o quão frustrante é quando sua expectativa não é correspondida? Fora isso ele se cobra: "ai, o telefone, não tô com saco para falar com fulano hoje... ele só sabe pedir favor... sério, ele tem que se tocar!" (5 minutos depois) "oooooiiii fulano! Claro, quer que eu veja se descubro pra você e já te falo?"... Não é falsidade, sabe, o bonzinho faz mesmo e fica feliz em ajudar, mas a verdade é que as vezes ele fica cansado também e acha chato que todo mundo só peça as coisas pra ele... Liga pra outra pessoa, eu hein!
Ah! E pior! Tem ainda quem mescle as categorias... É aquele fulano meio sonso em algumas situações e coitadinho em outras e eu acho que é o pior tipo de bonzinho porque nem ao menos veste o personagem direito: mas você é lesado ou independente, afinal? Eu não sei entender direito esse tipo de gente e nem mesmo sei explicar, só acho meio bizarro porque eles batem o pau na mesa pra fazer certas coisas e pra outras ficam dando uma de Madalena Arrependida! Eu, hein! Se decide, benhê!
Enfim... Não sei em que categoria, mas eu sei que você se identificou com esse texto, talvez você seja meio sonso, talvez seja o amigo que vai socorrer o sonso... talvez seja o bonzinho coitadinho (acho que é o tipo mais comum) ou talvez seja um vitorioso que não se encaixa em nenhuma das histórias, mas, certamente identificou algum amigo. O que quero dizer é que... ninguém é totalmente bonzinho e, se você está sofrendo por ser bonzinho demais, coloca rapidinho a mão na consciência e se pergunte: será que não me faço de bonzinho para tirar proveito disso? Ou, se você está sofrendo preocupado com seu amigo bonzinho: será mesmo que é para tanto?
Sabe, não tem nada de errado em tirar proveito da situação. Sério! Até porque isso é meio inconsciente e a gente passa anos e anos fazendo isso sem perceber, mas o que não vale é ficar sofrendo com os contras da sua bondade, sabe? Coloca numa balança... Se você percebe os contras é porque seus atos já não estão tão inconscientes assim... o que vale mais? Tirar pequenas vantagens provenientes de sua bondade ou livrar da dependência dos outros (sonso) e da cobrança alheia (coitadinho)?
Eu sou a boazinha coitadinha. Confesso. Embora tenha demorado muito para enxergar isso e, acima de tudo, embora tenha ficado indignada quando enfregaram na minha cara que no fundo eu só me fazia de boazinha porque sabia que ia tirar vantagem da situação (o que não faz de mim uma pessoa tão virtuosa assim); eu confesso que se não tivessem os prós de ser boazinha eu não seria tão boa assim.
Foi muito bom para mim descobrir o que tinha por trás da minha bondade. Eu me senti muito mais leve e deixei de ser tão legal e prestativa com os outros e, com isso, parei de me decepcionar e criar tantas expectativas em relação ao outro... Também parei de me cobrar ser essa pessoa boa: hoje, se eu não quero fazer eu não vou fazer e pronto ué, não sou obrigada! Não que hoje eu seja uma pessoa má, mas o fato é que agora eu só sou boazinha quando eu quero, saca? Só faço as coisas que realmente vão me fazer sentir bem! E é assim que tem que ser, porque ainda que você fique momentaneamente feliz ajudando o outro quando não está realmente com vontade, chega uma hora que isso pesa e não te faz bem. Em muitos momentos me senti sufocada assim e não era nada legal... Os contras estavam falando muito mais alto que o prós e aí eu deixava de cuidar da minha vida para cuidar da dos outros e quem cuidava da minha?????
Na verdade, ainda tenho meus momentos de "bondade coitadinha", afinal foram muitos anos nessa levada, mas sendo mais consciente disso, quando faço penso logo nos prós que terei. No começo me sentia muito mal por isso: me achava uma pessoa suja e manipuladora, mas pouco a pouco estou aprendendo a lidar e vendo que assim como eu fazia com os outros, essas mesmas pessoas também faziam de outra forma comigo e, portanto estava tudo certo.
Se o mundo precisa de menos mimimi, e se a gente desse menos peixe e ensinasse mais a pescar? E se a gente tivesse mais coragem de mudar? E se a gente levantasse a bunda da cadeira e resolvesse arrumar nossa própria vida antes de cuidar da vida dos outros? Acho que um bom jeito de começar é esse aí, hein?
Amei sua narrativa sobre SONSA,entendi que tenho uma sonsa ao meu lado,que preciso ensinar a pescar.
ResponderExcluirMas como já tentei de tudo,penso que isso é uma doença sem cura.