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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

E o Pagode, cadê?

     Trabalho com pagode. Acho engraçada a reação das pessoas quando comento isso: alguns acham o máximo, querem saber tudo, dizem que deve ser o melhor emprego do mundo; outros, por sua vez, torcem o nariz e dizem "Pagode, Ká? Mas você gosta?".
     Gosto de pagode, claro que gosto! Imaginem a tortura que seria trabalhar nessa área sem gostar desse ritmo? No entanto, faço aqui uma confissão: já fui do time "anti-pagode, axé e funk" também e, a partir daí, fiz uma reflexão sobre o assunto e aproveito o blog para compartilhá-la com vocês.
     Tenho a impressão de que todo mundo curte um pagodinho na infância, tem horror na aborrescência e saúda pela nostalgia quando jovem e, então, existem apenas dois caminhos: volta para o samba ou simplesmente decide que odeia MESMO a malemolência dos ritmos brasileiros.
     Passei por esse processo: Quando era criança só ouvia os clássicos pagodes dos anos 90. Quem não se lembra? "Marrom bombom, marrom bombom, nossa cor marrom...", "Lá vem o negão! Cheio de paixão...", "Tana... Tanajura!", "Lua vai, iluminar os pensamentos dela..."... Nossa! São tantos clássicos que, se eu continuar, não consigo nunca mais parar! Eu e minha prima arrasávamos no samba e no axé nos bailinhos de carnaval e a galera fazia roda em volta, acho que se perguntando "De onde saíram essas japinhas swingadas?"
     O fato é que eu cresci! Cresci e comecei a assistir à MTV para babar nas boybands, ouvir as rádios pops para cantar "As long as you love me" apaixonada por Nick Carter e cia. Minhas amigas também amavam os Backstreet Boys, N'Sync e Five; entre os meninos o que pegava era o rock e a technera! Todos ouviam Raimundos, Charlie Brown Júnior, CPM 22 (o NX Zero da minha época) e todos diziam odiar pagode, assim como eu, já com a consciência tomada por essa ignorância juvenil.
     Minha vida começou a mudar quando, como quase todo formando de terceiro colegial, viajei para Porto Seguro e o bichinho da baianidade nagô me picou! O axé me dominou!!! No ano seguinte entrei na faculdade, fiz amizade com pessoas que não viraram crias das rádios pops na aborrecência e passei a ser carregada para os pagodes (carregada, pois a princípio ainda era a contra-gosto). De repente, as baladas eletrônicas não faziam mais sentido, as músicas do Capital Inicial já não pareciam tão legais como os sucessos gravados do Acústico MTV; comecei a trabalhar nesse meio e hoje estou aqui. Putz!!! Pagodeira de profissão e opinião!!!
     Essa discussão toda não é nem para discutir esse processo natural que acredito que aconteça com as pessoas (aliás, com as pessoas ou comigo? seria eu uma louca ou isso acontece com várias pessoas? deixe aqui sua opinião!), mas para levantar um questionamento sobre como isso é mostrado, ou como NÃO É MOSTRADO, pela mídia.
     Na minha época (esse texto está fazendo com que eu me sinta uma velha, mas vamos lá), pagode era estourado!!! Todo mundo parecia gostar de Katinguelê, Exaltasamba (estou falando de um tempo em que, talvez, o Thiaguinho nem pensasse em ser cantor, minha gente!), Os Morenos, Molejo, Art Popular e afins, que estavam direto na TV, nas revistas. Esses dias até arrumei meu armário e achei umas revistas velhas: Belo ainda cantava no Soweto, Vavá era do Karametade e eles eram tidos como "Colírios", sabem? Tipo galãs mesmo! Tal exposição na mídia só vi novamente quando surgiu o tal "pagode universitário", mas a febre logo passou e, hoje, dizer que um grupo faz "pagode universitário" já não impressiona como antes.
     Humoristas adoram fazer piadas do tipo: "CD de pagode? Não quero nem de presente para meu pior inimigo!". Pagode virou termo pejorativo e, por um lado, até entendo, pois já teve uma época em que os caras só queimavam o filme da categoria. Era um tal de gente fazendo filho em todo o canto e sendo denunciado por não pagar pensão, gente esbanjando nas correntes de ouro e nos carrões... Tudo muito desnecessário e feio; mas até aí eu me pergunto: "E daíiiii???". E das drogas dos roqueiros ninguém fala?
     O que importa é a música, minha gente, a qualidade musical! E não me venham com essa de que pagode não tem qualidade musical nenhuma, porque tem sim! Como em todos os estilos musicais temos os bons e os ruins! Normal!
     Também não me venham com essa de que pagode é música de corno, pois basta traduzir uma gringa para ver que é tão corno quanto ou até pior, quando além de corno temos um suicída. O amor move as pessoas, o corno inspira seja no ritmo ou na língua que for!
     Não sei se é ignorância das pessoas por não conhecerem o trabalho e a história dos novos grupos. Se é aquele típico "Gosto, mas tenho vergonha! O que meus amigos vão dizer se me virem ouvindo pagode?". Não sei se é gosto simplesmente.
     Entendo sim que algumas pessoas não gostem de batucada, também não gosto dos metais do rock pesado, mas gosto é gosto! O que não vale é o desrespeito e o preconceito, cuidados que a própria mídia tem que ter na hora de selecionar seus conteúdos para mostrarem ao público não só o estilo musical da moda, mas todos que compõem a diversidade cultural do Brasil.
     Todo dia vemos na TV, nas rádios, nas revistas o lançamento de um CD de uma nova banda de pop rock, ritmo importado de fora! Agora, e o pagode, cadê?
     Como pagodeira de profissão (e também das horas vagas), gostaria de ver mais pagode na mídia e faço meu apelo aqui, porque, aceitem os intelectuais ou não, a batucada agita o brasileiro e não é só no carnaval, não! Aceite a elite preconceituosa ou não, pagode já não é ritmo só da periferia... Tem muito pagodeiro por aí estudado, formado e muito bem apessoado (assunto a ser dedicado às maria-pandeiro em uma próxima oportunidade)!
     Mais desculpas para evitá-los? Me arrumem todas para rebatê-las!

Blog BiS MTV
Março/2010

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