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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Reflexão sobre o (mau-)humor


Andando pela rua e observando as pessoas nos mais diferentes ambientes e, principalmente, nas redes sociais, concluo que estão todos, a cada dia, mais mal-humorados. E não falo daquele mau-humor que acorda com você e te deixa irritado quando alguém dá um bom dia animado; nem do que te pega de repente, na fila do banco, quando percebe alguém na boca do caixa que não sai de lá por nada desse mundo, apesar do seu relógio apontar que faltam menos de cinco minutos para acabar a sua hora do almoço. Tenho a impressão é que o mundo é está cheio de velhos (nem sempre cronologicamente velhos), conservadores, ranzinzas.

De uns tempos para cá, parece que tudo virou bullying e preconceito. Lembro de, na época da escola, zoar meus amiguinhos e ser zoada também. Muitos tinham apelidos que lembravam suas características físicas menos aprazíveis, como o gordinho chamado de “Bola”, o cara altão conhecido como “Poste” ou aquele outro que, Graças a Deus nunca precisei comprovar o motivo do apelido, respondia por “Bafo”. Não me recordo de ninguém que tenha precisado de terapia, aliás, todos permanecem amigos até hoje.

Quando era pequena, tanto em casa quanto na casa da minha avó, havia um monte de revistinhas de piadas. Eram piadas sobre loiras, japoneses, homossexuais, negros, portuguêspobres... Cresci lendo essas coisas e rindo delas sem maldade. É assim que enxergo uma piada: como uma piada. É isso que elas são, é assim que devem ser encaradas.

Não me considero uma pessoa preconceituosa, por isso me sinto a vontade para fazer piadas com tudo. Sabe aquele time do “perco o amigo, mas não perco a piada”? Sou titular. E faço piadas comigo mesma, dou corda se alguém faz piadas, ajudo na minha auto-depreciação. Não ligo. Acho que temos que saber lidar com nossos defeitos e exaltar nossas qualidades. Saber aceitar uma piada é uma forma de saber aceitar uma fraqueza nossa e nos ajudar a procurar quais as nossas qualidades para poder fortalecê-las. E, aliás, o bom-humor é, pelo menos para mim, uma das melhores qualidades que alguém pode ter.

Certa vez, uma amiga me confessou que, apesar de ter vários conhecidos homossexuais, não sabia lidar muito bem com a questão e, muitas vezes, se deparava com piadinhas engraçadíssimas sobre o gênero, queria compartilhá-las nas redes sociais, mas não o fazia por medo da reação dessas pessoas. Acabava por contá-la para uma ou outra pessoa através do comunicador on-line. Eu não. Eu espalho. E chamo os amigos homossexuais por termos chulos da mesma forma como chamo minhas amigas de infância por termos chulos. É carinho. É intimidade. É igualdade. Respeito excessivo eu tenho com pessoas que nunca vi na vida, com quem não tenho liberdade de tocar no ombro sem pedir licença.

Não vejo um homossexual, um negro, uma loira ou um gordinho como um ser diferente de mim, por isso não acho que preciso tratá-lo de maneira mais formal ou com um respeito “diferenciado”. Falo deles como falo de qualquer outra pessoa e brinco como brinco a respeito de qualquer outro assunto. Se fosse preconceituosa acredito que teria medo de falar certas coisas e ser mal interpretada, assim como acontece com a minha amiga, mas, justamente por ter consciência de que não há maldade em minha fala, eu falo.

As pessoas têm levado as coisas muito a sério. E têm levado a sério o que não precisa ser levado, deixando de lado assuntos mais relevantes que precisam ser de fato discutidos. Há quem não se dá conta que, por trás de um discurso bem elaborado e politicamente correto, pode haver um tom de ironia ofensiva que pode não existir em uma piada debochada, mas feita apenas para fazer rir.

De nada adianta um cidadão conhecer seus direitos se não souber como aplicar esse conhecimento em prol de algo realmente significativo. Oras, se você sabe sobre importância de lutar por seus direitos, por que não lutar por políticas públicas melhores ao invés de discutir pelo Twitter com o humorista que fez uma piada sobre aquela “personalidade da mídia” que, assim como você, está alguns quilinhos acima do peso?

Diferencio o humor da maldade pela entonação, pela gestualidade, pelo contexto em que aquela frase está inserida e pelas atitudes ou pela postura adotada após o que é dito. Se eu conhecer a pessoa responsável pela citação, avalio o histórico também. Acredito naquela máxima do “quem não deve não teme” e fala mesmo. E, aos mal-humorados de plantão, acho que lhes falta educação (no sentido de instrução mesmo, de cultura para o entendimento do que é relevante ou não). Por que não deixar um pouco o lado barraqueiro de lado e rir mais da vida?

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