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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Me perdendo em você foi que me achei...


Há muito eu não deixava as lágrimas rolarem soltas pela face. Ainda que elas me enchessem os olhos, pareciam não ter coragem de se jogarem deles. Eram como eu: estavam presas dentro de mim mesma, não queriam despencar para o mundo.

Em fase de experimentação, comecei a abrir as portinhas que, não sei ao certo como nem porque, havia fechado. Deixava-as entreabertas, apenas para sentir a brisa do mundo tocar minha pele... Queria correr e brincar lá fora, mas como um passarinho que ficou muito tempo dentro de uma gaiola, achava que devia permanecer ali, sem me aventurar a voar.

Até que você apareceu, pegou na minha mão e me convidou para um passeio... Ficamos ali, na calçada mesmo, mas a alegria que senti quando levei meu eu para a vida, me deu forças tamanhas para querer continuar dançando do lado de fora.

Só que você não apareceu para dançar e foi assim, com as portas abertas e gostando da minha descoberta de como era bom brincar na rua, que as lágrimas também se permitiram cair.

Sentei-me no alpendre, do lado de fora da minha casa, mas perto o suficiente da porta para poder entrar e me proteger dos perigos se assim sentisse necessidade, comecei a pensar sobre mim, sobre as minhas amarras, sobre a alegria da brisa da vida que envolvia meu corpo.

Entrei em contato com aquela pessoa que estava amarrada por correntes invisíveis, ouvi o canto do passarinho preso na gaiola de portas abertas e percebi que as respostas estavam dentro deles mesmos.

Me levantei, olhei para a casa que por tantos anos me protegeu e percebi que se tratava de um cenário montado, como nos filmes e novelas. Aquelas paredes todas eram móveis e frágeis, não protegiam coisa alguma, apenas mascaravam um estúdio branco e vazio, que poderia ser pintado e ser preenchido com as cores e elementos que eu poderia escolher.

Observei ao redor e comecei a selecionar os objetos que me agravam e que me desagradavam. Fiz isso livre de todos os personagens e figurinos que perambulavam pelo estúdio. Despi também o meu figurino. Completamente nua, podia enxergar melhor o que me caia bem. Olhei-me no espelho e minha nudez me deu transparência e, naquele momento, além do meu corpo pude enxergar minha alma. Quanta coisa bonita estava escondida ali...


Escolhi uma veste leve e fácil de tirar, apenas para me proteger daqueles para os quais eu não via necessidade de me mostrar. Peguei um guarda-chuva também, só para ter algum amparo em caso de tormenta muito brava.



Pensei em você me perguntei se você sabia qual roupa usar para dançar na chuva. Talvez ainda a estivesse procurando. Por apenas um segundo tive raiva da sua ignorância, mas aí eu me lembrei de que fora você que me puxara para fora de casa. Mentalmente te agradeci e pedi baixinho para que você tivesse também coragem de olhar para si, se despir e vir dançar comigo.



Mais uma vez uma lágrima ameaçou, mas não teve forças para rolar. Diferente de sempre, não se impedira por medo. Era o sorriso bobo e a recém-descoberta alegria de ser de verdade que a fazia vir aos olhos. Aquela lágrima não tinha a função de sair de mim e expulsar a tristeza, o lugar dela era ali... Viera apenas para dar brilho aos olhos, limpá-los e fazê-los enxergar o mundo com a pureza do coração. Obrigada por

me ajudar a me encontrar.

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