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segunda-feira, 27 de junho de 2011

A torcedora

     Já havia se formado a mais de dois anos, mas ainda vestia aquela camisa com orgulho. Lembrava-se dos momentos vividos naquela faculdade e de como mudara desde que se tornara um deles. Não era atleta, não fazia parte do Centro Acadêmico nem da Atlética. Apenas gostava das festas, de fazer social com as pessoas de todos os anos e cursos e, quando integrava a torcida, gritava e vibrava como se não houvesse amanhã.
     Estivera presente em apenas dois campeonatos. Em seu segundo e terceiro anos de faculdade. No primeiro ano não conseguiu a autorização dos pais para a viagem, por ainda se menor da idade. No último, com problemas pessoais, optou por ficar em casa e não estragar a festa de seus amigos com seu desânimo. Arrependeu-se, mas estava feito.
     Já formada, achava que não fazia sentido encarar essa loucura novamente, mas naquele ano decidiu ir pela farra. Nada de alojamento, barraca e banhos pagos em casas de desconhecidos. Iria em um esquema confortável, longe do que é o verdadeiro espírito do jogo universitário, mas iria! Algumas vezes até pensava se ainda tinha idade para essas coisas, mas aprendera com uma amiga, fanática como ela, "Não pode desapegar da faculdade. É como desapegar do seus pais." ... Pais são para sempre. Sua faculdade também.
     Viajou na sexta-feira a noite, após implorar para o chefe para sair mais cedo e, apesar da permissão, perceber a desaprovação nos olhos dele. "#JUCA Que se dane o mundo eu só quero você" se lembrou de twittar antes de sair. Começaria ali a mudar novamente a história.
     A sexta foi tranquila, mas a manhã de sábado começou animada e uniformizada. Futebol de campo. Final. Contra o maior rival. Toda a torcida estava ali. A bateria estava ali. Ela estava ali. Gritava, cantava e dançava. Toda a alegria para empurrar e apoiar seu time. No primeiro gol do adversário sentiu o coração apertar, mas cantou ainda mais forte. O segundo foi tão de repente que nem mesmo conseguiu ver.
     Achava que dava azar ao time e quis ir embora, mas viu seus jogadores partirem para o ataque e darem início à virada. Sentiu, pela primeira vez, uma lágrima de felicidade começar a nascer no cantinho do seus olhos, mas os óculos escuros a protegeram e começou a gritar com toda a força "Eu acredito!". Um gol perdido fez ter a sensação de que seu coração iria parar. Será que era isso que os torcedores dos grandes times de futebol sentia nos jogos de final de campeonato? Não sabia. Não torcia para ninguém além de sua faculdade; nem mesmo era grande torcedora do país nas Copas do Mundo.
     Cantou. Gritou. Mas a virada não chegou. Aplaudiu o time e, novamente, quase chorou ao ver a tristeza dos jogadores, que eram também amigos. O gosto amargo da derrota desanimava, mas manteria a cabeça em pé. Perderam, mas fora um bom jogo. Além do mais, sabia que os atletas rivais tinham um preparo especial e que tinham mais do que obrigação de ganhar.
     Teve medo de ver os demais jogos e não dar sorte às equipes. Lembrou-se que fora viajar apenas pela farra e farreou. Com algumas amigas, assistiu ao jogo de outra equipe. Para poder entrar no ginásio precisou vestir a camisa da faculdade delas e sentiu verdadeiro mal estar em colocá-la.
     Um conhecido de sua atlética, vendo a situação e o desespero dela em usar outra camisa, logo a aconselhou "Pode tirar essa camisa. É só não ficar com a nossa perto dos seguranças". Alívio imediato. Ajudaria a torcer por aquele time (que, obviamente, não jogava contra o seu no momento), mas sustentar o manto de outra equipe era demais.
     Vibrou mais algumas vezes com sua torcida, mas, traumatizada com o jogo da manhã, preferiu se ligar apenas na festa. Seu coração torcia, mas o corpo não estava presente. Curtiu a balada da noite e, para todos que perguntavam, orgulhava-se de dizer para qual faculdade torcia. Aos que esnobavam, esnobava de volta e afirmada que não havia amor maior do que aquele que sentia por seu time. 

     No dia seguinte, cansada da farra, retornou à sua cidade, sem nem se preocupar com os resultados finais. Além do mais, tinha uma certeza, ganhando ou perdendo, seu coração sempre seria vermelho e branco. E, quem liga para o ganhador? A festa era bonita, o calor da torcida vibrava e emocionava. Isso nenhuma derrota poderia mudar.
     Quase chegando em casa, uma ligação deu a grande notícia: Cásper campeã do Juca 2011! Sentiu, mais uma vez, uma lágrima de alegria começando a se formar nos cantinhos dos olhos. Gritou e, com a voz embargada, só conseguia repetir: "Queria estar lá".
     Arrependeu-se, mas estava feito. 
     Era campeã. E nada mudaria isso.
     Prometeu que se o mundo não acabasse em 2012 estaria lá novamente. Não era uma despedida. Talvez estivesse presente até quando o corpo aguentasse e, mesmo depois que não pudesse mais, o coração continuaria torcendo.

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Juca - Sempre vale a pena
Cásper Líbero. Meu único amor.

Micro-conto especial inspirado no meu Juca e no meu amor pela Cásper...

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